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«A arte faz parte de mim»

ANGELA LUYET. Nos olhos verdes guarda a serenidade, no sorriso a simpatia e na voz a certeza de que é no palco ou com uma câmara à frente que se sente realizada. As paixões resume-as entre a dança e a representação. A brasileira que há nove anos escolheu Portugal para morar, já passou pela Suíça, por França e pelos Estados Unidos. Apesar disso, é no nosso país que se imagina a morar nos próximos anos e por isso prepara-se para começar a ter aulas de "português de Portugal".

Começava por te perguntar o que estás a fazer neste momento.

Neste momento estou a dar aulas na In Impetus - Escola de Atores. Eu sou especializada no método de improvisação da Viola Spolin. Dou aulas nos cursos de especialização e nos intensivos. Além disso, dou aulas de dança no ensino básico, aos terceiro e quarto anos.

Então, neste momento, a tua principal atividade está relacionada com a formação artística.

Sim. Estou também a ensaiar uma performance e vou trabalhar na produção de uma curta-metragem de uma produção brasileira que vai ser feita aqui em Portugal.

Além disso, o último registo artístico que temos teu é um vídeo institucional de promoção ao Turismo da Madeira.

Sim, foi um trabalho fantástico. Foi maravilhoso!

Já conhecias a Madeira?

Não conhecia a Madeira. Foi a primeira vez e acho que, se em vez de ir em trabalho, se fosse em turismo, talvez não gostasse tanto. Foi tudo maravilhoso. Foi uma grande experiência. A equipa de trabalho era fantástica. São todos super profissionais e muito generosos. Tivemos oportunidade de, em oito dias, conhecer lugares espetaculares. Fomos ao Pico do Areeiro, nadei com golfinhos...

E foi ótimo.

Foi ótimo! Fomos muito bem-recebidos pelos madeirenses, mas sobretudo a equipa... foi muito bom trabalhar com cada um.

Aquele vídeo não deixa de ser uma publicidade, mas tem um sentido quase patriótico. Já tinhas feito algo do género?

Não, como este nunca tinha feito.

Mas já tinhas feito publicidade...

Sim, já tinha feito publicidade no Brasil. Fiz várias campanhas de carros, de farmácias, de supermercados, de jornais... Mas este é diferente. Eu estou em Portugal há nove anos, mas sai do Brasil há doze. Vivi na Suíça, em França e nos Estados Unidos, sempre a estudar.

Uma cidadã do mundo no verdadeiro sentido da expressão, portanto.

Exatamente! (risos) Malinha na mão para ir viajando. Quando cheguei a Portugal fui fazendo alguns trabalhos e agora fiz este que coincidiu com a minha entrada para a Buzico!.

Referiste que saíste do Brasil há 12 anos. Porquê?

Porque eu morava em Porto Alegre, no estado de Rio Grande do Sul e já tinha feito a minha formação. Trabalhava como atriz, dava aulas e chegou a uma altura em que senti que a minha cidade era pequena demais. Nessa altura eu pensei: ou vou para muito longe ou vou para São Paulo. E decidi ir para mais longe... (risos). Fui para a Suíça, que era onde o meu irmão morava, com o objetivo de conseguir uma bolsa para ir para Paris estudar cinema. Consegui a bolsa e fui. Estudei cinema, como atriz, e depois fui acabar o curso a Nova Iorque. Lá conhecia pessoas excecionais. Foi o único lugar no mundo em que eu senti que o nosso trabalho é mesmo uma profissão. Conheci pessoas muito generosas, foi uma grande aprendizagem. Ensinou-me muito enquanto atriz e enquanto professora.

E quando terminaste esse curso?

Regressei a França e depois voltei para a Suíça onde dava aulas de dança e aulas de teatro. No meio de tudo isso, conheci um francês que morava em Portugal e que me trouxe para cá. Quando cheguei, comecei a dar aulas na In Impetus e fiz o meu mestrado em dança na Faculdade de Motricidade Humana, aqui em Lisboa.

Este percurso, além de ser feito em vários países, também se faz entre duas paixões: o teatro e a dança...

Exatamente.

São duas artes que te completam.

Isso mesmo. Eu sempre dancei desde pequenina, comecei a fazer teatro quando já era mais velha. Na altura de fazer a tese de mestrado pensei em como é que ia unir as duas artes. Procurei informações no método de improvisação em que sou especializada e resolvi adaptá-lo ao bailarino enquanto intérprete em dança. Isto porque, ao conhecer o meio do teatro e o meio da dança, sente-se que existem pontos em comum e outros em que um e outro podem colaborar. Um bailarino não costuma trabalhar tanto a questão da presença cénica. Quer no ballet clássico ou no contemporâneo, trabalha-se sempre muito mais a técnica. E o teatro trabalha também a questão da presença em palco, da noção do espaço. Aborda isso de uma forma muito mais consciente e consistente do que a formação em dança, na minha opinião.

Esse tem sido o teu trabalho aqui em Portugal. Quer como formadora, quer como artista, tens tentado cruzar as duas áreas.

Sim, exatamente.

De que forma? O que é que tens feito?

Trabalhei mais de dois anos com o Teatro Ibisco onde trabalhei a dança e também a linguagem teatral. Agora estou a preparar uma performance para apresentar dia 30 de Abril nas Caldas da Rainha.

E como é que estás envolvida nesse trabalho?

Como intérprete. Eu sempre fui bailarina clássica, muitas vezes dancei contemporâneo, mas a minha base sempre foi o clássico. Acontece que hoje em dia eu tenho uma idade em que a dança clássica é só um prazer, já não é algo que eu possa fazer como profissional. Por isso é que nesta fase se começam a procurar outras linguagens, seja o contemporâneo, seja a performance.

Isso acaba por te colocar a desempenhar várias tarefas.

Sim. Eu acho que é algo que vem muito do facto de ser brasileira. Já na Faculdade de Artes Cénicas, aprendemos várias vertentes, várias linguagens e várias funções. Aprendemos sobre iluminação, direção, figurinos. O que acontece com um ator é que ele tem de ser multitasking para poder sobreviver. O mercado vai pedindo isso. Às vezes começamos como formadores de uma turma, depois já temos de os encenar. Ou dançamos ballet clássico, mas surge um convite para fazer uma performance em que também é necessário que colaboremos na criação do projeto. No teatro custa muito termos que pagar a um figurinista e termos de pagar a todas as pessoas. Acabamos a ter de fazer tudo.

E tu gostas disso?

Gosto, gosto muito. Fiz uma pequena participação agora na novela Ouro Verde, da TVI. E a próxima etapa é começar a aprender o português de Portugal para trabalhar mais.

Sentes que o teu sotaque brasileiro te pode impedir de trabalhar?

Sim, sinto.

E, portanto, queres estudar português de Portugal.

Exatamente, para ser definitivamente uma portuguesa! (risos)

É aqui que contas ficar nos próximos anos?

É aqui que eu conto ficar nos próximos anos! (risos)

Pergunto isto porque, às vezes, já podias estar com planos de uma nova mudança...

Nunca se sabe. Se aparecer oportunidade, quem sabe. (risos) mas se tudo se mantiver assim, é por aqui que conto ficar.

Neste momento estás a viver em Lisboa. Tens nacionalidade portuguesa?

Não. Tenho nacionalidade brasileira e suíça.

E quanto ao teu futuro enquanto artista, o que é que gostavas que acontecesse?

Quero voltar ao palco, do qual tenho muitas saudades, e quero fazer cinema. Também tenho muitas saudades das câmaras. Adoro cinema.

Já fizeste algumas vezes.

Sim, já fiz algumas vezes e acho fantástico. O cinema permite-nos trabalhar muito bem a personagem, trabalhar com muita concentração. O trabalho em cinema permite-nos ter linguagem mais poética enquanto propomos a cena. A telenovela e a publicidade é algo que se faz muito rápido, com muito speed. É uma outra forma, é muito ágil e temos de estar seguros de nós porque temos menos tempo para construir a personagem. No cinema não, no cinema há tempo para esse envolvimento do ator.

E, tendo em conta essa vontade de fazeres mais teatro e mais cinema, o que é que está no horizonte?

Por enquanto nada. Por enquanto...

Há pouco disseste que tinhas feito uma curta participação em Ouro Verde, na TVI. Como é que foi a experiência?

Foi ótimo. Fico contente por esta oportunidade que existiu para os atores brasileiros que moram aqui em Portugal. Contracenei com a Joana de Verona e foi bom, foi simpático. Mas lá está, é tudo muito rápido. Dão-me o texto, eu chego ali e faço. Não há tempo para nada, tenho de estar muito segura de mim e tenho de estar muito atenta ao outro. É algo que requer ao ator um esforço grande. Temos de estar prontos para pegar na energia do outro e darmos boa contracena. Se não fizermos isso, a cena morre.

Em Portugal também já fizeste teatro.

Fiz logo quando cheguei a Portugal. Fui dirigida pelo Tiago Justino e fizemos Um Elétrico Chamado Desejo do Tenesse Williams. Com uma temporada no Porto e foi muito bom.

E é a esse registo que gostavas de voltar.

Sim, gostava. Eu gosto do palco.

Depois de termos ficado a conhecer o teu percurso, diz-nos, quem é a Angela Luyet?

A Ângela é uma pessoa muito divertida, com um grande sentido de humor que, às vezes, as pessoas não entendem. É uma pessoa muito rápida, com muito speed e que consegue fazer muita coisa ao mesmo tempo. Depois tem momentos de distração em que apaga do mundo e não consegue fazer mais nada. Sou uma pessoa que ama tanto aquilo que faz que, quando penso nos momentos em que estive privada de poder fazer o que amo, sinto que murchei enquanto pessoa. A arte faz parte de mim. Sou uma pessoa totalmente criativa e gosto disso. É algo que me envolve. Nos locais públicos tenho um olhar atento, sou muito observadora e depois começo logo a pensar em criar à volta daquele momento... Mas é isso. Sou muito bem-disposta, muito brincalhona mas sou também muito profissional.

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

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