Depois de Dublin e Bratislava, o espectáculo "Naked Solider" chega a Lisboa no final de Ma
A vitalidade intrínseca de Naked Soldier, espectáculo teatral resultante da adaptação do romance homónimo do escritor austríaco Belmon O realizada a duas mãos por Nils Wilkinson, que também assume a tradução e por Miguel Granja, que assina igualmente a encenação, concede-lhe a marca d´água da intemporalidade.
Num registo gradualmente bem-humorado, desenha-se afinal o retrato dum homem gay na Viena da década de setenta. Contudo, pelas melhores razões, este duplo olhar de Wilkinson e de Granja sobre obra original de Belman O extrai dela o que ela tem de mais generoso: a prescindência do sentido estrito do lugar e do tempo remissivos do romance para compor a narrativa em monólogo dum homem em particular, mas que, sem surpresa, se constitui voz plausível de quantos partem na busca de si mesmos e dum sentido possível para a sua verdade e que, entre acertos e desacertos, compõem o próprio caminho de desocultação.
A qualidade genuinamente contemporânea da obra não só valida a pertinência deste momento de palco que retraz o tema da identidade e da fragilidade dos seus pressupostos, como o faz com recurso a um elegante exercício de enaltecimento da força transfiguradora daqueles que com medo e audácia depõem a máscara e se vestem por fim da sua nudez. E este olhar pede de nós todos, todos os palcos que lhes possamos dar porquanto todos sabemos de alguém que, quando não mesmo nós próprios, um dia se magoou no arame farpado do tempo aberto do preconceito, uma ferida cujo gerúndio não sara e que corta cerce a alegria que lhe é devida. É para com todos esses que vêm do passado, do presente e do futuro, o nosso compromisso!
Após felizes apresentações em Dublin, onde estreou, e posteriormente em Bratislava, o monólogo intimista interpretado pelo actor anglo-germânico Nils Wilkinson e encenado por Miguel Granja, agora regressado duma prolongada residência cultural e artística na Alemanha por mais duma década, terá em Lisboa uma nova temporada em cena. Desta feita, na Sala Village (localizada no Underground Village Lisboa) permanecendo em cartaz de 29 de Março a 28 de Abril do corrente ano, com apresentações semanais de quinta-feira a sábado.
Luís de Macedo escreve de acordo com a antiga ortografia.