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«Sinto que tenho muitas histórias por contar»

BRUNO ROSA. Nos olhos claros guarda sonhos, enquanto o sorriso, sempre pronto, denuncia alguns dos que já cumpriu. A trabalhar numa companhia de circo francesa, Bruno vive intensamente cada regresso a casa. Aos 29 anos, lembrou, nesta conversa, o começo como ator e o futuro como acrobata. E se algum dia o corpo lhe falhar, garante que há muito que possa fazer.

Pelo que sei, estás a preparar um mês intenso de trabalho no Casino de Lisboa… conta-me tudo o que vai acontecer.

Vão acontecer duas performances! Finalmente consegui trazer uma amiga minha de França, a Daniela. Desde que a conheço que a queria trazer cá e que queria trabalhar com ela. Finalmente conseguimos fazer isto acontecer. É uma junção interessante. Admiro-a há muito tempo, até antes de a conhecer. Ela é um génio do circo e conseguir fazer isto em Lisboa, em casa, é muito bom. Estou muito ansioso.

Mas falaste em duas performances…

Sim, sim. Serão duas performances diferentes, sempre com ela. Nos primeiros quinze dias será um número de straps com banheira e água… Será um número de acrobacia mais sensual, sexy, verão e calor. Para a performance da segunda quinzena, mandámos construir um aparelho de raiz. Será uma coisa nova. Será um trabalho num registo mais rock and roll, mais agressivo.

E estás muito entusiasmado?

Muito entusiasmado e muito ansioso.

Como disseste, este trabalho é o regresso a casa.

Sabes… eu quando fui para fora, achei que ia por dois meses, que não ia gostar e que ia voltar. Mas aconteceu exatamente o oposto, que foi querer ficar lá e não voltar para cá. Depois, o voltar a Lisboa foi quase sempre por questões pessoais. É cá que tenho a minha família e amigos. Agora, poder voltar e ser para trabalhar é maravilhoso! Ainda para mais, no Arena Lounge do Casino de Lisboa – que é uma casa que eu adoro – é muito especial. Aquele é um dos melhores sítios onde eu já trabalhei. Estreei-me lá com a Mónica Alves há três anos. Agora tenho a possibilidade de trazer a energia do trabalho que faço lá fora para casa, ao lado do meu marido, perto dos meus amigos e da minha família… É maravilhoso!

Estamos aqui a falar do teu regresso a casa, porque nos últimos anos tens estado a trabalhar, maioritariamente, em França. Como é que tem sido essa experiência?

Desde de novembro de 2015 que trabalho na companhia de circo Les Farfadais. Tem sido uma vitória a nível pessoal porque, falando do facto de ser casado, sempre joguei pelo seguro. Tendo trabalho aqui, ficava aqui, mesmo que tivessem surgido ideias para ir para fora. Antes desta experiência, tinha passado seis meses em Vigo, numa companhia de circo que não correu muito bem e que me deixou de pé atrás com a possibilidade de trabalhar fora. A verdade é que esta tem sido uma aventura muito boa. Para além de admirar o trabalho desta companhia, dou-me muito bem com as pessoas, que é algo que me faz querer estar e crescer em termos profissionais. Ali trabalho a um nível que jamais acharia ser possível. Acho sempre que sou menos do que na realidade revelo ser. Há um balanço estranho e este trabalho com esta companhia de circo tem sido muito bom por isso. Tenho chegado a um estado físico e a um estado emocional de satisfação que cá, em Portugal, não seria possível. Comecei a acreditar mais em mim e isso tem sido muito bom. Depois, estou a conhecer o mundo inteiro que é algo que eu queria muito que acontecesse.

Como assim?

Para além de estar a trabalhar em França, com um espetáculo fixo, estou a fazer um espetáculo em cruzeiros. Basicamente, todos os meses há um novo em países diferentes.

Esta experiência surge depois de alguns projetos em Portugal.

Sim, nomeadamente seis anos a trabalhar com o Filipe La Feria.

Um começo de carreira feito como ator. Tens saudades?

Não tenho saudades de só fazer teatro, mas se hoje fosse convidado, faria com todo o empenho e entusiasmo. Acho que agora me identifico mais como: Bruno Rosa, acrobata, que junta o teatro ao circo. É aí que me encontro. Atenção, eu adoro teatro, adoro representação, adoro fazê-lo e adorava repetir.

Sabes, eu olho para o teu percurso como um ator que se tornou acrobata e, com isto, quero dizer que olho para ti como alguém que encontrou uma maneira alternativa de contar histórias. Porque, o que acontece é que tu contas histórias com o teu corpo. Continua a ser mágico para ti?

É muito mágico para mim e sinto que ainda tenho muitas histórias por contar. Quando faço os meus números a solo nunca os preparo com muita antecedência. Só nas duas semanas antes do show é que defino o que vou fazer. Nessas duas semanas, aprofundo esse número. E isso pode ser um bocado mau para quem está a trabalhar comigo… [Risos.] Há tanta coisa que quero fazer e dizer que não consigo definir onde vou estar daqui a um mês. É totalmente impossível para mim. Claro que se estiver num espetáculo ou num trabalho em dupla, como é óbvio, sei o que vou fazer e respeito todos os timings e regras. O que acontece é que nos meus espetáculos a solo vou pela intuição e, às vezes, ela só chega dois dias antes.

Este percurso leva-te, hoje em dia, a trabalhar muito com o teu corpo. Pensas no dia em que isso possa deixar de acontecer?

[Encolhe os ombros.] Sim… Penso.

Tens medo que isso aconteça?

Tenho! Eu faço muita coisa. Não me preocupa a questão de “se o meu corpo deixar de responder, o que é que eu vou fazer?”. Porque tenho capacidades para fazer muitas outras coisas. Já vendi casas, já trabalhei em lojas de roupa ou restaurantes… Se tiver de voltar a fazer seja o que for, não terei problemas com isso. Depois, adoro trabalhar em produção. Aliás, foi por isso que ajudei a criar a Buzico! Agência. Estava cansado do circo e então decidi abrir a agência com o Duarte. Relativamente ao meu corpo não responder, tenho medo. É o que eu gosto de fazer. É como me sinto 100% realizado. O corpo queixa-se. Com 29 anos já se começa a queixar. É um bocadinho assustador, mas faz parte. Há muitas massagens a acontecer e fisioterapia, muitos cuidados que começo a ter… Não aquecia antes de um espetáculo. Chegava e fazia. Mas depois, há três anos, fiz uma rutura numa perna… Hoje não consigo fazer nada sem aquecer, pelo menos, 40 minutos. Portanto, há estas limitações, mas o meu patrão [na companhia francesa Les Farfadais] tem 43 anos e é incluível como acrobata. Se eles conseguem, porque é que eu não vou conseguir? [risos]. Tenho medo, sim, mas há muita coisa que se pode fazer.

Queria que me contasses, além da temporada do Casino de Lisboa, o que é que tens planeado?

Termino dia 31 de agosto no Casino, dia 1 de setembro vou para Amsterdão. Faço um cruzeiro pelo Mediterrâneo. Depois volto a Lisboa, rumo ao Mónaco onde vou fazer um espetáculo dois dias. No início de outubro vou para Paris ensaiar. Depois: San Diego, cruzeiro. De seguida, Paris…

Calma, não precisas de nos dar a tua agenda! [Risos]

[Risos] É a única maneira que eu sei! [Risos] Depois vou para a Índia quatro dias. Depois, Paris até março…

Sempre com a companhia de circo francesa…

Sim, sempre.

Dá para perceber que tens muito trabalho pela frente e que é um trabalho que te vai fazer viajar mais.

Sim, é uma das coisas que mais gosto e que este trabalho me permite.

Para quem ainda não tenha percebido, que companhia é essa?

Esta companhia vive muito das artes visuais. Os figurinos são sempre excêntricos. Esta companhia, além de ter espetáculos próprios, tem espetáculos que integra. Nos barcos sou um acrobata que faz um show normal. Em Paris, o espetáculo é de outra companhia que trabalha com cavalos – que são tratados de uma maneira incrível! – porque eu sempre recusei trabalhos com animais, mas depois percebi que era impossível que fossem melhor tratados e por isso é que aceitei. Nesse espetáculo, o meu grupo é contratado para fazer a parte de acrobacias. Na Les Farfadais, sou um acrobata no meio de 90. É uma companhia de acrobacia aérea, que faz só circo aéreo. Também tem alguns números de solo, números de dança e de pole dance.

Pronto, acho que esse esclarecimento era importante, para se perceber o que fazes e onde estás, exatamente.

Sim. O circo onde estou é mais contemporâneo, moderno. A companhia onde eu estou é como se fosse a concorrente do Cirque du Soleil, sem que, na realidade, concorra. É como se fosse o Circo Chen e o Circo Cardinali. São duas companhias que estão no mesmo patamar.

Depois de já termos percebido quem és tu, em termos profissionais, quero que me digas quem és tu, Bruno Miguel Rosa?…

[Risos] Detesto essa pergunta!

É a última!

Quem é o Bruno Rosa? O Bruno Rosa tem 29 anos…

Acabados de fazer.

Sim, acabados de fazer. [Suspira.] Detesto falar sobre mim. [Risos.] O Bruno Rosa é um apaixonado. É um menino que demorou muito tempo a saber o que queria da vida mas sempre o fez com muita certeza, apesar de parecer contraditório. O Bruno é um sonhador. Tem mil e um objetivos de vida e está a cumprir muitos, neste momento. Dá-se por feliz. É teimoso. É preguiçoso. É super divertido. É… O que é que queres que diga mais? [Risos.] É o Bruno Rosa, venham beber cafés com o Bruno Rosa que ele adora beber cafés com pessoas e falar com pessoas e odeia falar sobre ele.

Agradecimentos: Village Underground Lisboa

Xavier Pereira escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

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