«Eu vou sempre escolher a representação»
RICARDO VIEIRA. Tem-se dividido entre o jornalismo e o teatro, mas se tivesse de escolher apenas uma área, assume que a representação era a única opção. Sonhador e otimista, espera por um papel de maior destaque em televisão enquanto anseia por começar um percurso no cinema.
Neste momento o que é estás a fazer?
Neste momento posso designar-me como um jornalista-ator e não um ator-jornalista, como eu se calhar, quereria. Como ator fiz muito recentemente uma participação na série O Sábio, da RTP, e estou à espera que surjam mais episódios e mais cenas para a minha personagem.
Que personagem era essa?
Era um advogado que tinha alguma relevância na história porque estava a defender uma das personagens principais da série e, da forma como até agora estava a correr a ação, dava para adivinhar que poderiam surgir mais episódios que incluíssem cenas onde a minha personagem entrasse. Portanto, agora está do lado dos guionistas. Não está fechada a porta. De resto, como ator, não tenho mais nenhum projeto em mãos. Depois, e uma vez que tenho o curso de jornalismo, estou a trabalhar como tal para uma revista dedicada à área dos Recursos Humanos e Gestão de Empresas.
São duas áreas nas quais tens vindo a trabalhar com regularidade e, muitas vezes, em simultâneo.
Sim. Eu comecei a trabalhar nas duas áreas. Sempre estive ligado ao teatro, mas ainda antes de ter formação em representação, tive formação em jornalismo e em comunicação social.
Quando dizes que sempre estiveste ligado ao teatro, como é que isso aconteceu?
Estive ligado ao Teatro Universitário do Minho, desde o momento em que entrei na Faculdade, praticamente. E permaneci ligado a esse grupo ainda durante uns anos. Fizemos algumas peças. Depois, quando vim para Lisboa, para estagiar na área de comunicação social, arranjei rapidamente uma forma de estudar o que realmente queria, que era representação. Na altura encontrei um curso em horário pós-laboral, na Universidade Lusíada. Era um curso de representação mais virado para teatro e também tinha algum espaço dedicado à televisão e muito pouco cinema. E fiz esse curso durante dois anos, ao mesmo tempo que trabalhava durante o dia. Depois tive oportunidade de, ainda antes de acabar o curso, integrar uma peça de teatro de alguns dos atores que eram meus professores. Eles convidaram-me, aquilo acabou por correr bem, fizemos uma digressão e durante dois anos estive pelo país a fazer teatro. Foi ótimo porque tudo o que eu tinha feito tinha sido no registo amador e universitário. Pro isso, poder depois fazê-lo de forma profissional foi muito gratificante. Deu-me muita estaleca e tenho consciência de que o ator que hoje sou, devo-o a esse período.
Depois disso, tens feito o quê?
Integrei uma outra companhia de teatro, em Lisboa. Era a Arte de Encantar que se dedicava a projetos de teatro para a infância. Estive lá durante um ano. Depois integrei o elenco adicional de uma novela da TVI, que foi a Doida por Ti. E tenho feito alguns trabalhos de publicidade e algumas participações pontuais em novelas, principalmente na TVI.
Nesse percurso, fizeste teatro e televisão. Onde é que encaixas o cinema?
O cinema, podemos dizer que é o futuro. Fiz muito pouco até agora. Fiz umas curtas-metragens com colegas que conhecia e que estavam a tirar o curso de cinema. Mais recentemente fiz duas formações com o realizados Nuno Madeira Rodrigues que me fizeram querer apostar cada vez mais no cinema.
É por aí que queres seguir?
Sim, é por aí que quero seguir. É engraçado porque, a minha formação é em teatro, a minha experiência como ator tem sido sobretudo em televisão e publicidade, mas o que gostaria mesmo de fazer é cinema. Como ator é o que mais desafia, é com o que mais me identifico e aquilo que acho que é mais gratificante.
Porquê?
Pela atenção ao detalhe, pela cuidado da fotografia, pelo tempo que o ator tem. É, sem dúvida, aquilo que tenho como objetivo neste momento.
Essas formações que fizeste recentemente refletem algo que tem sido também uma preocupação tua, que é ires sempre fazendo formação.
Sim. Eu acho que, em Portugal, há uma ideia que o ator que já está bem estruturado no meio, não tem de fazer formação porque consolida a sua arte nos projetos profissionais que integra. Ora, eu discordo. Eu acho que há sempre mais a aprender e há sempre alguém que nos dá uma perspetiva diferente e que nos acrescenta algo. Depois de ter terminado o curso na Lusíada, mesmo que tenha sido sobretudo virado para o teatro, eu lembro-me que uns anos depois estava a reciclar a minha formação específica em teatro com o João Mota, na Comuna, num workshop intensivo e que eu aconselho a todos os que querem ser atores. Agora quis reciclar a minha formação na área de cinema porque achava que tinha muito poucas bases. A primeira foi com o Nuno Madeira Rodrigues na ACT. Depois ele faz uma seleção, nas formações que dá, e convida alguns alunos para uma segunda formação mais intensiva e eu fui um dos que ele chamou. O objetivo naquele segundo curso era fazer, do zero, uma curta-metragem. Algo que fosse pensado de raiz para aquelas pessoas, para aquele contexto. Havia um guionista que escreveu o texto pra nós e depois, com o Nuno Madeira Rodrigues, ensaiámos e gravámos. Foi muito intensivo e, ao mesmo tempo, foi muito bom. Estamos à espera que o trabalho de edição e montagem termine para vermos o resultado final.
Além de todo o trabalho como ator, também trabalhas como jornalista. É outra paixão tua?
Estaria a mentir se dissesse que o jornalismo está ao mesmo nível que a representação. Não são duas paixões que estão ao mesmo nível, estaria a mentir se dissesse que são.
Não queremos que mintas!
(Risos) Não vou mentir, não vou mentir. Neste momento o que me paga as contas é o jornalismo. Já houve outras alturas em que o que me pagou as contas foi a representação. Como disse ao início, estou numa fase em que sou um jornalista-ator, mas já houve outros momentos em que consegui viver apenas com os trabalhos que tinha como ator. Agora é que estou a dedicar-me mais ao jornalismo, sem nunca deixar de trabalhar na representação. Mas nunca diria que as duas áreas estão ao mesmo nível, porque não estão.
Mas, ainda assim, o jornalismo é também uma área que te interessa?
Sim. Não posso dizer que sou um infeliz a trabalhar como jornalista. Gosto do que faço, também me desafia, mas não ao mesmo nível que a representação.
É uma maneira diferente de contar histórias.
Sim, é. Eu já fui repórter de uma programa de televisão e naquele projeto senti que estava mais aliado a representação e o jornalismo. Eu não deixava de ser jornalista, mas toda a minha formação e experiência enquanto ator me ajudaram a estar em frente às câmaras. Deu-me um grande à vontade e talvez por isso eu tenha conseguido esse trabalho. Mas se me perguntares entre uma área e a outra, eu vou sempre escolher a representação. Sem pensar duas vezes.
E tendo em conta essa preferência tão grande, diz-nos o que querias fazer agora?
Queria muito, muito ter um bom papel em televisão. Digo isto porque, em cinema, é difícil. Eu tenho vindo a crescer em televisão e as pessoas com que tenho trabalhado têm-me dito "a tua oportunidade está a chegar", "está mesmo ao virar da esquina o 'teu' papel". E isto é muito ingrato porque os responsáveis das produções quase que hipotecam o futuro, dizendo que preferem não nos sugerir para uma determinada personagem porque é pequena, porque pensam que vou desperdiçar uma oportunidade melhor um bocadinho mais à frente. E ficamos a aguardar. E depois o projeto termina e nem sequer fui chamado. Não fiz uma participação e muito menos uma personagem de maior relevo. Eu percebo o porquê de pensarem assim, mas ao mesmo tempo é ingrato par qualquer ator que quer e precisa de trabalhar.
E, portanto, o que querias era que estivesse para breve o momento em que terás uma personagem de maior destaque?
Sim, para poder mostrar o que valho. Só assim é que poderei mostrar o meu potencial. Era o que eu gostava que acontecesse a curto prazo.
E além do que gostavas, o que é que já está certo para os próximos meses?
Neste curto prazo, aguardo novidades sobre a minha personagem n' O Sábio, da RTP. É possível que tenha de gravar mais episódios. E depois acredito que vai aparecer mais trabalho. Acredito no Duarte e no Ulisses, da Buzico!, e sei que estão a fazer o melhor trabalho para que me ajudar.
Tirando o facto de te dividires entre o jornalismo e a representação, diz-nos quem é o Ricardo Vieira.
É difícil responder. (risos) O Ricardo Vieira neste momento é um jornalista-ator, como já disse, que tem muita vontade em ser ator a tempo inteiro. Tenho muita vontade de fazer isso acontecer, apesar de já ter quase 32 anos e de já estar a tentar há mais de dez. Não desisto dos objetivos e dos sonhos a que me comprometi no passado e que continuam bastante fortes no momento. Apesar de tudo, sinto-me realizado. Estou muito feliz na vida pessoal e na vida profissional também.
És um sonhador?
Sim, sem dúvida! E os sonhos e os objetivos que tenho estão bem definidos. Vão mudando e estão em constante evolução, mas eu sei quais são e faço por os atingir. Se tivesse que me definir numa só palavra era: sonhador, porque por muito que mude enquanto pessoa e enquanto profissional, a minha génese e a minha matriz é a mesma. Fui sempre assim, sou sempre assim e acho que vou ser sempre assim. Quer em termos pessoais ou profissionais, eu acho que, se estivermos mal e deixarmos de sonhar, aí estará tudo acabado. Portanto, eu acredito que só com os sonhos bem presentes e com vontade em mudar o rumo das coisas é que algo pode acontecer e que a vida anda para a frente.
Agradecimentos: Village Underground Lisboa
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico